Jacomo Trento, conhecido como ‘Porto Alegre’, líder da Revolta dos Colonos de 1957, faleceu aos 92 anos
Jacomo Trento, conhecido carinhosamente como Porto Alegre, figura emblemática na história do Sudoeste do Paraná, faleceu na sexta-feira, 22 de agosto. Sua partida marca o fim de uma era para a região, que o reconhece como um dos protagonistas da histórica Revolta dos Colonos de 1957. Porto Alegre não foi apenas uma testemunha, mas um ativo participante de um dos movimentos sociais mais significativos do estado, que moldou o destino de milhares de famílias de posseiros e colonos.
Jacomo Trento, apelidado de Porto Alegre devido à sua origem gaúcha, era um comerciante de equipamentos elétricos que percorria o interior do Sudoeste do Paraná. Essa atividade lhe proporcionou um contato direto e profundo com a realidade dos colonos e posseiros da região, que enfrentavam sérios problemas de regularização fundiária e a violência de companhias de terras grileiras. Sua ligação com o radialista Ivo Thomazoni, da Rádio Colméia de Pato Branco, foi crucial. Trento atuava como uma espécie de repórter informal, alimentando a rádio com informações sobre a situação dos colonos, o que ajudou a mobilizar a população e a dar visibilidade à causa. Ele é lembrado como um dos líderes que lutou ao lado dos colonos e posseiros, defendendo seus direitos à terra.
A Revolta dos Colonos de 1957: Um Marco na História do Paraná
A Revolta dos Colonos, também conhecida como Revolta dos Posseiros, foi um levante popular que eclodiu em 10 de outubro de 1957 no Sudoeste do Paraná. O movimento foi uma resposta à grilagem de terras e à violência praticada por companhias como a Clevelândia Industrial e Territorial Ltda (CITLA), que reivindicavam a posse de terras já ocupadas por milhares de famílias. A disputa pela terra na região tinha raízes profundas, remontando à criação do Território Federal do Iguaçu em 1943 e à atuação da Colônia Agrícola Nacional General Osório (CANGO), que atraiu migrantes do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. No entanto, a falta de regularização fundiária e a atuação de empresas inescrupulosas geraram um cenário de conflito e injustiça. O levante culminou com a tomada de diversas cidades, incluindo Francisco Beltrão, Capanema, Pato Branco e Santo Antônio do Sudoeste, por cerca de 6 mil colonos armados com ferramentas agrícolas e armas improvisadas.
A Rádio Colméia, com o apoio de figuras como Jacomo Trento, desempenhou um papel fundamental na organização e comunicação dos posseiros. A revolta resultou na desapropriação das terras em litígio pelos governos de Jânio Quadros e João Goulart anos depois, e na distribuição de títulos de propriedade aos colonos, consolidando uma importante vitória para os trabalhadores rurais e para a história da reforma agrária no Brasil.
Legado e Reconhecimento
Jacomo Trento, o Porto Alegre, deixa um legado de luta e resistência. Sua vida foi dedicada à defesa dos direitos dos mais vulneráveis e à construção de uma sociedade mais justa. Sua participação na Revolta dos Colonos é um testemunho de sua coragem e compromisso com a causa dos posseiros. A memória de Porto Alegre permanecerá viva na história do Sudoeste do Paraná, como um símbolo da força e da determinação de um povo que lutou por sua terra e dignidade. A comunidade do Sudoeste do Paraná e todos aqueles que conhecem sua história lamentam profundamente sua perda e celebram sua vida e contribuições inestimáveis.
Homenagens
Muitas homenagens foram vistas nas redes sociais. Uma delas foi a de Fabio Gaspar, idealizador do filme A Terra é Nossa, que será lançado em outubro de 2025. O longa-metragem retrata a Revolta dos Posseiros de 1957. Ele também deixou sua homenagem:
“Neste momento de despedida, fica o reconhecimento à sua vida e à sua história, que continuam a iluminar os caminhos das novas gerações, reforçando a importância de manter viva a lembrança da luta pela terra no Paraná. Que sua memória permaneça viva e seu exemplo siga inspirando a todos”, escreveu Fabio Gaspar, após resumir a vida de Jácomo Trento.