Faleceu Raul de França Veloso, um dos primeiros policiais militares em Dois Vizinhos
30/05/1934 + 08/05/2021
O município perdeu no último final de semana um importante personagem da história do setor de Segurança Pública.
Faleceu na noite do último sábado (8), no Hospital Pró-Vida (aos 86 anos), em decorrência de infartos, Raul de França Veloso, um dos primeiros policiais militares destacados para Dois Vizinhos e o primeiro despachante oficial de trânsito na microrregião. Acometido a cerca de um ano por Alzheimer - doença progressiva que destrói a memória e outras funções mentais importantes, ele se apresentava com sua saúde bastante debilitada, e ultimamente só se locomovia em cadeira de rodas. Veloso, como popularmente conhecido na cidade, sofreu no início de abril um infarto e outro no meio da semana passada, que acabaram o levando ao óbito.
Ele deixou a esposa Ilda Müller Veloso, cinco filhos homens e duas mulheres, oito netos e duas bisnetas. Seu corpo foi velado na Capela Mortuária da Unifaz, em Dois Vizinhos, até às 11 horas do domingo (9), horário após o qual o corpo foi encaminhado para cremação em Francisco Beltrão, onde antes recebeu homenagens do 21º Pelotão da PM.
HISTÓRICO
O jornal Tribuna dos Lagos teve o privilégio, em 2012, de publicar em 10 edições a trajetória de Raul de França Veloso em Dois Vizinhos, história por ele mesmo narrada ao nosso veículo de comunicação.
ABAIXO UM PEQUENO RESUMO DA PUBLICAÇÃO:
Natural de Pitanga PR onde nasceu em 30/05/1934, Raul de França Veloso chegou ao Sudoeste do Paraná em outubro do ano de 1957, como soldado voluntário da Polícia Militar para servir na região. Tinha na época apenas 23 anos e por aqui acontecia o confronto entre colonos e posseiros. A chegada aconteceu inicialmente em Pato Branco, conforme assim narrou para o Tribuna: “Quando descemos do ônibus, chovia muito e em princípio vi poucas casas. O meu coturno ficou pela canela, de tanto barro que havia na rua. O desembarque foi em frente à Delegacia de Polícia, uma casa velha de madeira, onde posamos. Dormimos no chão e tive que fazer de travesseiro o meu próprio fuzil”. Em Pato Branco Raul de França Veloso permaneceu durante três meses, período em que fez boa amizade com o juiz da Comarca, na época Dr. José Meger, a quem revelou o seu desejo de deixar a caserna em Pato Branco e ir para um destacamento do interior. Foi atendido pelo juiz, que comentou com o Comandante do destacamento e este acabou enviando para o Verê, Veloso, outro soldado e o 1º Tenente João Varsóvis.
Mas no mês de dezembro de 1957, foram todos levados de volta para Pato Branco. Alguns dias depois de quando retornaram ao destacamento, veio um comunicado do Comando geral da Polícia Militar em Curitiba, determinando que fosse implantado em Dois Vizinhos um Contingente da PM. Para o grupamento, o Tenente Nelson Grachi designou Veloso e outros soldados, num total de quarenta. Dois Vizinhos era ainda Distrito de Pato Branco, mas contava com um Subprefeito, Ary Jaime Muller, que mais tarde veio a se tornar sogro de Raul de França Veloso. “Fiquei durante um bom tempo no hotel, fazíamos patrulha com um Jipão e também a cavalo. Montados e com o fuzil nas costas íamos até a Erveira, de lá para o Cruzeiro do Iguaçu e depois descíamos até Ouro Verde do Iguaçu. A gente saía de manhã e ficava o dia inteiro no lombo de animais, roteiro que cansei de fazer. Quando chegava nos botecos então, parecia um terremoto era só nego agarrando o mato”, detalhou Veloso. Conforme enfatizou ainda, o trabalho maior da polícia por aqui, naquele tempo, era prender ladrão de cavalos.
“Mas as prisões eram raras, prendíamos o cara e ele ficava apenas 24 horas na Delegacia e depois era solto. Mortes em brigas e confusões, também não aconteceram nos dois primeiros anos em que fiquei aqui”.
Depois de três anos de namoro, em 11 de fevereiro de 1961 o Padre Florêncio fez o casamento de Veloso com Ilda Müller, filha de Ary Müller com quem teve sete filhos. Giovane Jonas Veloso, o primogênito nasceu em 24 de dezembro de 1961, depois vieram Gilmar, Mariângela, Elenice, e Gilson. Em João Jorge D´Oeste para onde se mudou em 04/04/1969 nasceram -lhe mais dois filhos: Joelson e Jocemara. Sobre sua atuação como Despachante de trânsito em Dois Vizinhos, Raul Veloso assim destacou para o Tribuna dos Lagos: “Eu fiquei responsável por toda a parte burocrática do trânsito, emplacamentos que naquela época se emplacavam até carroças e bicicletas. Eu montava os processos e levava para Pato Branco de onde os documentos eram remetidos para Curitiba. Lembro que as placas tinham todos a sigla GB. Quando aqui cheguei havia poucos carros. Lembro do Jeep do senhor Ernesto Zancanaro e da Rural Willys do Olivo Dalpasqual. Mas quando iniciei o trabalho no trânsito, não tinha mais que 20 automóveis em Dois Vizinhos” destacou. Ele citou os nomes dos Delegados de Polícia na época: João Almiro Dhil, Agostinho Vitto, Zeferino Vitto e Nadir Ercolen de Almeida. E os subdelegados: Ebraim Antônio Dias Negrote, João Maria Goldinho e Emílio Guareschi.
Em 29 de agosto de 1973, portaria assinada pelo então diretor em exercício do Detran, Ascânio Miró, oficializou Veloso como titular do serviço de trânsito no município de São Jorge D´Oeste, função que exerceu até o governo de Álvaro Dias, quando foram extintos 21 departamentos de Trânsito de municípios pequenos no Paraná. Em outubro de 1984 Raul Veloso foi reformado como Cabo, mas continuou por um tempo como despachante oficial de trânsito em São Jorge D´Oeste, em escritório que acabou passando para o filho mais Velho. No final de 2001 retornou para Dois Vizinhos. “Voltei pra cá, porque amo Dois Vizinhos e aqui fiz família e conquistei muitos amigos”, declarou Raul Veloso, o homem que em suas conversas sempre ressaltava a honestidade e a humildade como as duas coisas que mais admirava nas pessoas. Mentira e ingratidão eram atitudes que dizia abominar no ser humano.
Veloso veio para o Sudoeste ainda jovem e foi figura ativa na história da região, especialmente no período de disputas de terras conhecido como a Revolta dos Posseiros, ingressando na reserva remunerada em 23/02/1984. O Paraná e a sua Polícia Militar prestam a última continência. Siga em paz nobre combatente! E à família, nossas condolências!