SAÚDE FEMININA

05 de outubro de 2012    336 views
Dois Vizinhos foi local, recentemente, de um parto considerado raro por muitos nos dias de hoje, ou seja, aquele realizado em casa com acompanhamento apenas de uma profissional de enfermagem, também chamada de parteira urbana. O procedimento teve como protagonista a Odontóloga duovizinhense, Dra. Kévelyn Poliana Palma Rigo Thiesen, esposa do engenheiro civil Ricardo Thiesen, e filha de Dr. Romeu Rigo e Cleusa Palma Rigo, que teve o seu primeiro filho, Theo , às 6:23 horas do dia 12 de Setembro, pesando 3,5 quilos. O parto normal teve duração de cerca de sete horas e transcorreu sem qualquer alteração. Ela foi assistida pelas primas, as irmãs Honielly Palma Goes e Henielly Palma Goes. Sobre o procedimento e também sobre o parto humanizado, quem falou para o jornalista Marins do Jornal Tribuna dos Lagos foi Honielly (foto), formada em Enfermagem Obstétrica pela Unioeste de Cascavel (2007), com especialização na Universidade Adventista de São Paulo (Unasp) e professora da área de Saúde da Mulher e da Criança na Unioeste, em Cascavel, e que cursou também Medicina por dois anos em Libertador San Martín (província de Entre Ríos) - Argentina.

Tribuna dos Lagos: - O que é mesmo Enfermagem Obstétrica?
Honielly: - A enfermagem obstétrica trabalha com a saúde materno-infantil. Ela é especializada em assistir a mulher durante o período da gestação, no trabalho do parto, parto e pós-parto. Ela tem como objetivo principal promover uma assistência adequada e qualificada a mãe, para que ela possa gerar da melhor forma possível o seu bebê, e receba também depois do parto uma assistência adequada. A mãe que não é bem orientada durante o pré-natal, ou teve um bom parto ou não foi assistida no pós-parto pode, por exemplo, deixar de amamentar o seu filho, por falta de orientação e de apoio. Isso coloca a vida do bebê, pois criança que não é amamentada pelo menos até os seis meses, tem maior probabilidade de desenvolver qualquer doença infeccioosa nos primeiros anos de vida. Assim, o enfermeiro obstetra trabalha com esse conjunto de assistência, no pré-natal, no trabalho de parto, parto e no pós-parto (puerpério). O enfermeiro obstetra é habilitado para conduzir um parto quando acontece de forma natural, examinar a gestante, verificar contrações, dilatações e demais alterações no funcionamento do organismo feminino no momento do parto, e discernir quaisquer alterações patológicas que possam requerer um atendimento médico especializado. Com a autorização do Ministério da Saúde, portanto, o enfermeiro obstetra é habilitado para realizar qualquer parto normal sem nenhuma complicação na saúde da criança ou da mãe.

Tribuna dos Lagos: Como geralmente é desenvolvido esse trabalho?
Honielly: - Nosso trabalho é voltado especialmente em assistir a Saúde da Mulher.Temos um nível de especialidade que nos possibilita assistir o parto não só no hospital, como também no domicílio. Não se trata de algo empírico, feito de qualquer forma, sem um embasamento científico. No hospital, o enfermeiro obstetra trabalha sempre em parceria com o médico especializado em Obstetrícia.

Tribuna dos Lagos: - Como transcorre um parto domiciliar?
Honielly: - O parto domiciliar tem algumas características diferentes daquele que é realizado em hospital. Durante o trabalho de parto a parturiente tem, por exemplo, toda a liberdade de caminhar, de fazer o que quiser no seu habitat natural, ela escolhe quem ela gostaria de que acompanhasse o parto, ela é orientada sobre tudo no trabalho de parto e parto, recebe massagens, banho terapéutico, faz exercícios na bola, pode se alimentar, e nós realizamos todas as técnicas não famacológicas possíveis de alívio a dor. Ela escolhe qual a posição que deseja parir, se de cócoras, se semi-sentada, deitada de lado, a melhor forma que ela desejar. O bebê deverá entrar em contato com a mãe logo após o nascimento antes do corte do cordão umbilical. Uma vez em casa, deixamos seu corpo agir naturalmente, sem intervenção de qualquer gênero. Só iremos intervir em último caso, quando houver realmente indicação.

Tribuna dos Lagos: - Quais as vantagens da mãe optar por ter em casa o seu filho?
Honielly: - No parto natural a recuperação da mulher é muito mais rápida. Num parto Cesário, por exemplo, a probabilidade do bebê ir para uma UTI é doze vezes maior, enquanto que num parto normal essa chance reduz para quatro. E no pós-parto, a mulher tem riscos maiores de desenvolver uma hemorragia. O risco de infecção é também menor no parto normal. A amamentação é mais fácil e diminui problemas respiratórios no bebê. Sem corte no períneo a recuperação é mais rápida e mais confortável e menos sangramento. Com parto natural as complicações são menos frequentes. Alem de que a mulher se sente melhor por estar no seu ambiente natural, com quem ela deseja.

Tribuna dos Lagos: Quais os critérios utilizados para saber se uma grávida está em condições de ganhar o bebê em sua própria casa?
Honielly: - Primeiro, é saber se ela deseja realmente ter um parto domiciliar. Em Segundo lugar, precisamos saber se há nela condições clínicas devidamente atestadas pelo médico ou pela enfermeira obstétrica que estão acompanhando o pré-natal, que comprovem principalmente se ela desenvolve uma gestação de baixo risco. São vários os fatores a serem observados como pressão arterial, diabetes, problemas cardiológicos, o oligoâmnio ou o polidrâmnio (diminuição ou aumento excessiva do líquido amniótico), entre outras complicações que não nos permitem assistir a um parto no domicílio. O próprio enfermeiro obstetra solicita todos os exames que dêem o embasamento e a segurança para que o parto seja realizado em casa, sem colocar em risco tanto a vida da mãe quanto a do bebê. Mesmo assim, o médico que realiza o pré-natal, estará sempre em contato, para que em caso de uma necessidade de uma cesárea ele esteja pronto para atender. Todo o planejamento é realizado com antecedência para que em caso de qualquer intercorrência a mulher já sabe o que deverá ocorrer.

Tribuna dos Lagos: - Quantas pessoas são necessárias para realizar um parto no domicílio?
Honielly: - O parto domiciliar pode ser assistido apenas pelo enfermeiro obstétra e o seu auxiliar, ou por uma equipe que pode ser composta de um pediatra, uma Doula - pessoa com incumbência de prestar assistência emocional a parturiente e o médico obstetra. Isso quem decide, no entanto, é também a mulher. Levamos para casa todo o material de suporte como oxigênio, máscara, ambú para fazer reanimação, aspirador portátil, tudo o que é necessário para os primeiros cuidados a parturiente e seu bebê e até mesmo meio de locomoção ao hospital, caso seja necessário.Trabalhamos também com um documento chamado Partograma preconizado pela Organização Mundial de Saúde através do qual temos condições de visualizar algum problema durante o parto, que possibilita o tempo hábil de se locomover a mulher até um hospital, onde ela será assistida por um médico. Portanto, trabalhamos com esse e vários embasamento que nos assegure contra os riscos.

Tribuna dos Lagos: - Em média, qual a duração de um parto domiciliar?
Honielly: - O parto normal pode durar de 8 a 20 horas se for o primeiro filho. A partir do segundo filho a estimativa começa a diminuir para em torno de 6 a 14 horas. Isso contando das primeiras horas em que ela inicia o trabalho de parto, ou seja, ela inicia com contrações leves e mais espassadas, progredindo com contrações mais moderadas e mais frequentes até a hora do nascimento. Porém o tempo sempre vai variar de mulher para mulher, e depende muito dos estímulos ativos que ela recebe, por exmplo a caminha, ou que chamamo de parto ativo, em que a mulher se movimenta e não fica apenas em cima de uma cama pensando na dor.

Tribuna dos Lagos: Como transcorreu o parto domiciliar da Dra.: Kévelyn Poliana, realizado há poucos dias em Dois Vizinhos?
Honielly: - O trabalho de parto teve a duração de sete horas. Foi bem tranquilo, o bebê nasceu na banheira e em nenhum momento mostrou sinais de sofrimento. Ela reagiu muito bem, foi uma mulher muito forte e corajosa, posso dizer que disse cinco vezes ‘AI’, durante todo o processo. Poliana se portou de uma forma incrível, isso porque estava preparada e fazendo aquilo que queria. Também, porque teve ao seu lado dando apoio, o tempo todo, o esposo, o pai e a mãe. É difícil de descrever a emoção que sentimos nesses momentos.

Tribuna dos Lagos: E o parto humanizado, qual a diferença?
Honielly: - O parto humanizado pode ser assistido no domicílio ou no hospital, que precisa, no entanto, ser qualificado e possuir profissionais qualificados para trabalhar a humanização do parto, com menos intervenção possível. Deve-se, por exemplo, evitar o uso rotineiro e sem indicação da episiotomia (corte feito na abertura inferior da vagina da mãe durante o parto), lavagem intestinal de rotina, uso de ocitocina de rotina e outras condutas que antigamente eram muito utilizadas, mas que hoje estão comprovadas cientificamente que mais prejudicam o parto e o nascimento, do que facilitam, outro fator é o direito de acompanhante garantido por lei federal. Por exemplo, antigamente elas não podiam se alimentar durante o trabalho de parto. Ficavam, às vezes, até 24 horas com dor sem poder ingerir nenhum tipo de alimento. Isso enfraquecia a mulher e, consequentemente diminuía a glicose no seu organismo, o que colocava em risco também a vida do bebê. Hoje, percebe-se que com uma alimentação leve e a ingestão de líquidos da cor clara de preferência, faz com o que a mulher tenha mais força para superar o trabalho de parto, que é um momento dinâmico. O parto humanizado foca a mulher e o bebê, quando antigamente o foco era apenas o bebê que tinha que nascer bem, e ninguém se preocupava com o bem estar da mãe.

Tribuna dos Lagos: Qual o seu recado final?
Honielly: - É de que nos incomoda, o fato das pessoas darem a opção para a mulher, quando ela como dona de seu corpo é quem tem o direito de escolher, como gerir, como dar a luz a esse filho, de que forma, com quem. Ela é quem tem que escolher. Eu acredito na capacidade da mulher dar a luz. Toda mulher tem capacidade de dar a luz e vivenciar este momento único que é a chegada do seu filho.
Fonte: Matéria Publicada na edição 426 de 28/09/2012 - do Tribuna dos Lagos
 
 
 

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